segunda-feira, 28 de abril de 2008

Carta de amor de Lygia Fagundes Telles...



Tenho vivido em dois planos, o cotidiano, o real com as obrigações de cada dia, com os laçõs que me prendem às pessoas queridas - que amo também e diante das quais sou um, determinado, com identidade certa, com passado, presente e futuro que me enleiam a um caminho pausado, de responsabilidades conscientemente aceitas. Desse mundo, L., você é afastada e quando também se ausenta esta emoção enorme que chego às vezes a negar, que esse é o mundo real, verdadeiro, e que não devemos, não podemos, não podemos....Que é preciso parar logo e fugir guardado a lembrança amiga de um encantamento que podeira ter sido...Quando o seu frágil e tão belo mundo, L., inesperadamente irrope e se instala desse modo em mim - como agora que que está emoção vai me tomando - então é nisso que sobretudo acredito, um tempo feito à sua imagem e construído aparentemente com fatos pequenos e miúdos: um telefonema hoje, um encontro rápido amanhã, uma esperança para Deus sabe quando. Fatos tão incertos, tão escassos - e que constituem no entanto toda a nossa história visível. Sinto que mesmo desse pouco eu poderia desistir se você quisesse. Este carinho tão fundo e puro. Secreto e altivo. Que guardo como um bem raro. Que nem você poderia mais atingir ainda que tudo acabasse amanhã. Este carinho que me devolve e recria sua imagem, já agora tão minha para sempre, tão junto e amiga. M.N.

http://br.youtube.com/watch?v=bntsolV2P0Y

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