quinta-feira, 20 de março de 2008

Adélia Prado

Michael J. Austin
O VESTIDO

No armário do meu quarto escondo de tempo e traça

meu vestido estampado em fundo preto.

É de seda macia desenhada em campânulas vermelhasà ponta de longas hastes delicadas.

Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,

meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.

É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:

eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão.

De tempo e traça meu vestido me guarda.


Adélia Prado


"O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta."(Adélia Prado)


Conheci sua obra uns 4 anos atrás e me identifiquei muito com essa mulher, infelizmente não tenho seus livros em minhas prateleiras, adoraría ganhar um deles, ou todos quem sabe?


Para a época em que sua poesia foi divulgada : a revalorização da identidade feminina, como ser pensante e ser maternal. Aqui, o grande valor desta poeta. Ou seja, Adélia conseguiu conciliar a intelectual com a mãe, esposa e dona-de-casa; ela conseguiu o equilíbrio entre o feminismo ( movimento agressivo) com o feminino (natureza intrínseca).

Em seus poemas, estão muito bem colocadas as figuras masculinas ( pai, marido, filho), sem observamos sinais de conflito, fato este que não se observa nas poetas mais atuais.

A característica de sua poética? Lírica, suave, simples, leve. E com um estilo próprio, diferente de Cecília Meireles (considerada, ainda, o grande expoente feminino da poesia brasileira).

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