Por muito tempo eu desejei me interessar por alguém. Era angustiante não ter
ninguém para direcionar toda minha necessidade de amar, os meus desejos, o meu
afeto. Olhava todos com olhos de descrença. Ninguém me “enchia” os olhos. E
todas as noites, antes de dormir, eu repetia como um mantra: eu preciso de
alguém! Alguém que tenha a íris reluzente, que me desperte interesse, que me
faça ter vontade de lutar por ele. Alguém com defeitos suportáveis, que me
encante pela simplicidade e delicadeza. Que me tire o fôlego! Então tudo começou, só que, não começou quando eu encontrei esse alguém, e sim quando esse alguém me encontrou.
Lembro-me da primeira vez que olhei para o brilho dos seus olhos encantadores e enfeitiçantes a olhar para mim, de uma forma que eu jamais pudesse imaginar que um dia alguém pudesse. Lembro também de tê-los comparado a um farol, ou a uma estrela, talvez até ao sol. E a imagem desse seu olhar permaneceu por vários dias em meus sonhos mesmo quando já não estava mais a dormir. Mas logo depois daquela nossa noite, a noite em que o mundo foi nosso, mas que deveria ter sido única, percebi que seus olhos eram na verdade um buraco negro, poço sem fundo do qual não conseguiria me desprender. Não sei se pela profundidade abismal ou pelos encantos escondidos nele. Só sei que o seu olhar que me sugou, afligiu e encantou, misturando minha necessidade de ir embora à vontade de mergulhar mais e mais em ti, dissecando cada entranha e expondo todos seus segredos mais obscuros; te conhecendo, me aproximando, tornando-me inerente a você e amando como ninguém jamais suportou te amar.
Então depois daquele dia vi a minha paz ir embora, pra bem longe de mim. Até então eu não sabia o preço dos meus anseios. Desejei todos os dias não somente seu corpo, mas também a sua alma, companhia, seu sorriso, seus olhos, timbre, pele, calor. Pensar em você fazia me arder por inteiro, nos pequenos gestos, nos bobos risos, no falar, no andar, no all star, no jeito. Ah se eu pudesse te tomar pra mim, fazer eterno alguns momentos, mesmo que
poucos. Sentir seu cheiro, impregnar-me dele por completo e experimentar seu
gosto de forma plena e satisfatória. Por vezes me peguei em desvarios imaginando as delícias ocultas dos seus lábios tentadores, que desenham perfeitamente cada palavra que será dita.
E teus olhos, ah novamente estes olhos, incógnita maior em ti. Encarei indiscretamente tua
íris, tua pupila, procurei ali debaixo do brilho intenso quem és tu. Ora via o
medo, ora veia a força. E às vezes não veia nada, porque me perdia nestes olhos
que se apertam como que mirando sempre um distante horizonte. Adoro nossas conversas, seu jeito simples, seu vocabulário. Até que chegou o dia que parei e lutar para manter recôndito esse sentimento. Se sentir isso por ti fosse questão de escolha, talvez eu escolhesse não sentir. Ou não. Eu tento me distrair: leio, ouço música, converso, olho o céu todas as noites, vejo filmes idiotas e faço toda sorte de futilidades possíveis, mas tem sido difícil
esquecer-te. Em todo lugar, eu tudo que eu faça, em tudo que eu pense e até na
tentativa de não pensar eu encontro você. Dentro. Fora. Sempre.
Foi quase que de repente que percebi: o quanto que te amava. Apesar de tão óbvio não queria reconhecer. Em vão busquei outra palavra qualquer que traduzisse esse sentimento tão reconfortante e ao mesmo tempo angustiante. De nada adiantou eu me distrair em outros braços, sentir outros gostos e experimentar outros perfumes enquanto eu sabia que o aquilo que me satisfaria viria de você.
Fiquei totalmente entregue, nem a distancia fazia com que eu lhe esquecesse. Isso porque ver sem te ver era imaginar, o que poderia acontecer, era acreditar que o impossível poderia ser possível, era sonhar mesmo estando acordada. Eu te queria, te queria, mesmo sabendo que este era um sentimento delicadamente perecível. Às vezes perdia horas e horas tentando entender os seus sentimento e me iludia com algum dos seus dizeres, cheguei a pensar que os sentimentos fossem recíprocos, mas foi só ate aquele dia, naquele castelo de contos de fadas, na janela com portas abertas deixando passar por entre elas a vista daquele céu unido ao mar, uma verdadeira obra de arte da natureza, foi ali que ouvi você me dizer da impossibilidade do meu ou do nosso sentimento e do provável futuro, futuro este que agora se faz presente.
Então recomeçam as tentativas para esquecer-lhe: trabalho, amigos, álcool, veneno, drogas, anestesias, poesia, música e filmes. Nada. Tudo em vão. Vem outra tentativa, a de transformação, baseada no conhecimento popular de que nada se cria, nada se apaga, se esquece, mas tudo se transforma, amor da troca para o amor que não quer ou não espera nada em troca, em um amor de amigo. Mas a falsa amizade não resiste ao próximo encontro, esqueço e novamente me entrego. Mas no final desta temporada peço desculpa, se caso você me ache estranha, mas digo que preciso ir. E dou uma desculpa tola: “ eu vou porque nós estamos muito bem assim juntos, nos gostamos tanto, nos curtimos tanto e a noite passada foi com certeza inesquecível. E eu não quero cometer o pecado do amor desgastado, da relação esgotada. Quero você assim na minha lembrança: sorrindo, alegre, doce e ainda com ares de perfeição. Vou agora porque desejo nunca perder a hora de partir, nunca perder esse bom senso de saber que todo auge precede o declínio, e que é melhor partir enquanto está sorrindo do que quando se está chorando. E não me peça pra ficar, não é um tempo que eu estou te pedindo, eu estou dando “tchau” mesmo. É melhor pra nós dois. Deixaremos imortalizados na lembrança os risos, os olhares os cheiros… serão boas memórias. Não me diga esse “adeus” expelindo raiva. Só estou indo embora porque gosto de você, não quero para nós mágoas de cotidiano extenuado. Boa sorte em tudo! Te gosto, um beijo!” Você orgulhoso não implora para que eu fique, tão menos chora. Até acho que você vai sentir saudade que a idéia de minha ausência lhe doa, mas você não faz drama escarcéu teatro dramalhão, a minha ausência vai lhe render no máximo um apego maior a qualquer coisa que lhe distraia, nunca lágrimas de dor.
Passado pouco tempo eu voltava, ah! Quando voltava, você me recebia de braços abertos e sorriso nos lábios, e nunca deixou que o tempo enquanto estivemos distante tirasse de nós a intimidade construída pela intensidade do nosso curto mas intenso conviver . E tão natural que você quisesse todos os porquês, todas as desculpas que eu fosse capaz de inventar e todas as verdades que já não podia mais suportar escondidas no meu coração. Mas infelizmente pareceu não querer, não se importar, não me deixou se quer lhe dizer os motivos que me torturavam a ponto de desistir de você, de nós. Apenas aceitava-me. Recebia-me. E talvez esperasse até o dia em que de novo eu lhe diria adeus e de novo você sorriria acenando-me um “vá com Deus”. Agora, mais uma vez tentando ficar longe de você, percebo que o seu riso nunca fora de condolência, de conformismo ou de boa sorte. Seu riso sempre foi sarcasmo, de ironia. Ria porque sabia que sempre voltaria, que de você sou dependente e meu caminho nunca será venturoso sem sua presença. Ria porque achava graça de quem se despede mesmo sabendo que de você é impossível partir para sempre.
É com a mistura de estranheza e certa felicidade que reconheço que sempre volto e sempre voltarei para ti. Nem é por querer, é por necessidade que sempre me verei presa em tuas teias. Porque tu és minha poesia, talvez a minha maior inspiração. Não a única, porque a vida é muito grande e há muitas pessoas especiais com quem cruzamos caminho, conhecemos e vez ou outra nos inspiram e tornam-se merecedoras de nossas palavras, sejam as palavras faladas diretas ou as escritas oblíquas. Mas, na minha poesia, és tu o meu verso mais expressivo e intensos, as dores mais doloridas e as alegrias mais irradiantes. Pois foi em ti que descobri a própria poesia, com toda tua métrica, tua rima, teus encantos e teu veneno. — Se é que existe diferença entre o encanto e o veneno. — Outra coisa que eu gostaria de dizer é que, apesar de já ter escrito pensando em ti incontáveis vezes, é sempre caminho desconhecido dedicar palavras à tua intenção. É como se cada vez fosse a primeira, um pulsar de inspiração, uma virgindade de idéias. E fico assim, sem saber se estou no início ou no meio. E nunca, nunca consigo dar um fim.
Hoje, estou aqui mais uma vez tentando lhe esquecer e vejo-te agora de longe. Mero espectador de sua vida. Ás vezes até me repreendo por flagrar-me em horas que se passam enquanto penso em você, quando penso em nós, em como seria, em tudo que poderia ter sido. São horas que passam mansas, passam como sonhos que temos enquanto dormimos, mas o acordar sempre interrompe a utopia construída pelos desejos. Retorno pra realidade e imagino-te rindo com outras pessoas, bebendo em diferentes copos e comentando aqueles mesmos filmes, nossos filmes, nossos assuntos, nossas similaridades. Sinto ciúmes por isso, mas ciúme algum é maior ao aperto que sinto no peito ao saber que agora você se acalanta em outro colo. E o que ficou pra nós dois? Recordações e nada mais…
Prólogo:
Tenho tanta saudade dos seus olhos… Tanta vontade do seu sorriso que
mescla a inocência e a malícia de forma indescritível, que minha vontade é te
encontrar assim por acaso no meio da rua — pra ser mais cinematográfico — e
correr em direção ao seu encontro e te abraçar e abraçar e abraçar de modo
assim displicente, e sob todos os olhares te dizer que te amo e te quero pra
sempre em minha vida e que a distância que eu mesmo causei nada vai adiantar
porque te esquecer é impossível e sonhei com você na noite passada e acordei
arrepiado com o realismo do sonho e que pensei em você o dia inteiro e fico
assim sorrindo só te imaginando e me lembrando dos seus olhos, ah estes olhos…
como me prendem, como me perco…Hoje sou só saudades e redundâncias.