sábado, 22 de dezembro de 2007

VEJO VOCÊ


Ver sem te ver

É imaginar,

O que pode acontecer,

Que não pode acontecer,


Ver sem te ver

É acreditar que é possivel,

O impossível.


É sonhar,

mesmo estando acordada.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

NAMORANDO A ROSA


Meus Zelos


Quando eu acordar

de manhãzinha

a primeira coisa que eu vou fazer

é ir buscar pra você

no fundo do quintal

uma gota de sereno

na folha de laranjeira

da folha de laranjeira

na palma da minha mão

vou te levar um segredo

vou te mostrar os meus zelos

numa gota de sereno

molharei teu corpo inteiro

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

FAZ ESCURO, mas eu canto....

http://br.youtube.com/watch?v=i_QABS88nDc&feature=related
A vida verdadeira

Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não se guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que valea pena
e o preço do amor.
Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão:
avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolado de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:está sempre acesa.
Vem da terra dos barrancoso jeito doce e violento
da minha vida:
esse gostoda água negra transparente.
A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.
Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na minha garganta,
cravando seu cravo tristena verdade do meu canto.
Canto molhado e barrentode menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centros da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verde
se sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.
Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos
Por isso avanço cantando.
Estou no meio do rio,
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão,
sei que estou no meu lugar
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.
O que passou não conta?.
indagarãoas bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
O que passou ensina
com sua garra e seu mel
.Por isso é que agora vou assim
no meu caminho.
Publicamente andando.
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi(o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.
Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
o que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha de bom socorro.
Feita à imagem do menino
mas à semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.
Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moçarolando sobre o capim
.Vida, toalha limpa,
vida posta na mesa
vida brasa vigilante,
vida pedra e espuma,
alçapão de amapolas,
o sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.
Mas é preciso merecer
a vida.

Thiago de Mello

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Nada como dormir depois de uma grande paixão...




Cantiga De Ninar

Raul SeixasComposição: Raul Seixas e Paulo Coelho

Nada tão belo como uma criança dormindo

Nem tão profundo como dormir sem sonhar

Nem tão antigo como o sonho dos teus olhos

Nem tão distante como a hora de acordar

Dorme enquanto teu pai faz músicas

Que é a forma dele rezar

Todos os sonhos na realidadeSão verdades,

se eu puder cantar

Você chora quando tem fome

Mas vem logo uma mamadeira

Amanhã se você chorar

Vai chorar tua vida inteira

Fiz meu rumo por essa terra

Entre o fogo que o amor consome

Eu lutei mas perdi a guerra

Eu só posso te dar meu nome

BOM DEMAIS!

http://www.youtube.com/watch?v=N89Md8k6XXk
QUEM NAMORA

Artur da Távola


Quem namora agrada a Deus.Namorar é a forma bonita de viver um amor.Não namora quem cobra nem quem desconfia.Namora, quem lê nos olhos e sente no coraçãoas vontades saborosas do outro.Namora, quem se embeleza em estado de amor.Namora, quem suspira, quem não sabe esperar mas espera,quem se sacode de taquicardia e timidez diante da paixão.Namora, quem ri por bobagem, quem sente frios e caloresnas horas menos recomendáveis. Não namora quem ofende, quem transformaa relação num inferno, ainda que por amor.Amor às vezes entorta, sabia?E quando acontece, o feito pra bom faz-se ruim.Não namora quem só fala em si e deseja o parceiroapenas para a glória do próprio eu. Não namora quem busca a compreensãopara a sua parte ruim.O invejoso não namora. Tampouco o violento!Namorados que se prezam têm a sua música.E não temem se derreter quando ela toca.Ou, se o namoro acabou, nunca mais dela se esquecem. Namorados que se prezam gostam de beijo, suspiro,morderem o mesmo pastel, dividir a empada, beber nomesmo copo. Apreciam ternurinhas que matam de vergonhafora do namoro ou lhes parecem ridículas nos outros. Por falar em beijo, só namora quem beija de mil maneirase sabe cada pedaço e gostinho da boca amada. Beijo deroçar, beijo fundo, inteirão, os molhados, os de língua,beijo na testa, no seio, na penugem, beijo livre como opensamento, beijo na hora certa e no lugar desejado. Semmedo nem preconceito. Beijo na face, na nuca e aqueleespecial atrás da orelha, no lugar que só ele ou elaconhece. Namora, quem começa a ver muito mais no mesmoque sempre viu e jamais reparou. Flores, árvores, a santidade, o perdão, Deus,tudo fica mais fácil para quem de verdade sabe o que é namorar.Por isso só namora quem se descobre dono de um lindo amor. Só namora quem não precisa explicar, quem já começa afalar pelo fim, quem consegue manifestar com clareza efacilidade tudo o que fora do namoro é complicado. Namora, quem diz: "Precisamos muito conversar"; e quem écapaz de perder tempo, muito tempo, com a mais útil dasinutilidades e pensar no ser amado, degustar cadamomento vivido e recordar palavras, fotos e carícias comuma vontade doida de estourar o tempo e embebedar-se deflores astrais. Namora, quem fala da infância e da fazenda das férias,quem aguarda com aflição o telefone tocar e dá um saltopara atendê-lo antes mesmo do primeiro "trim". Namora,quem namora, quem à toa chora, quem rememora,quem comemora datas que o outro esqueceu.Namora, quem é bom, quem gosta da vida,de nuvem, de rio gelado e parque de diversões. Namora, quem sonha, quem teima, quem vive morrendo deamor e quem morre vivendo de amar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

AR PURO E PAZ! O QUE MAIS POSSO QUERER?


Quero respirar verdadeiramente. Mas o que seria isso? Pra mim respirar verdadeiramente é deixar as minhas células vermelhas (cor da vida, da paixão) levar esse ar para além dos tecidos, até a alma, o espírito, o campo energético, sei lá como mais podemos chamar esse além. Mas isso não é nada fácil. Poucos são os momentos em que respiramos verdadeiramente, talvez num orgasmo, num salto de pára-quedas, num vôo de asa delta ou num pulo de bang jump. E nem é preciso aprender a respirar, nem fazer yoga, meditação ou uma seção de respiração artificial. O ato de respirar é inato. Mas por que então é tão difícil? Imagino que seja porque precisamos estar felizes, tranqüilos, livres, livres do amor que enfeitiça e do desamor que chateia ou mortos, é talvez os mortos respirem assim, talvez por isso não somos imortais para que um dia tenhamos essa sensação do ar puro entrando em nossa alma. Por favor, quero respirar!

http://www.youtube.com/watch?v=Is3pwbkLXwU

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Amor, poesia e autor desconhecidos.....

http://www.youtube.com/watch?v=2Cwe4m5ThY8
A minha inocencia dei-lhe toda a voce...

E com vc descobri meu corpo.

Descobri meu sexo,

Descobri o prazer,

Descobri a paixão,

E depois o amor



A minha inocencia dei-lhe toda a voce

E com vc descobri a mentira,

O pecado,

A incerteza,

A solidão,

A saudade,

A vontade,

A dor.


A minha inocencia dei-lhe toda a você.

Graças a voce,

Hoje conheço a malícia,

Sou mais experiente,

Sou mulher...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

PROVA DE AMOR


Irritada levantou-se da sala em direção ao computador. Afinal, ele transformara-se nos últimos tempos no seu maior confessor. Escutava-a com a maior calma, parecia entender o que se passava dentro de sua alma.Tudo que queria com ele falava, ou melhor, teclava. E como teclava! E o computador não fazia cara de horror. Não lhe colocava freios, nem vinha com reprimenda do tipo "Menina, vê se emenda!".Não aguentava mais tamanha ansiedade. Seria crise de meia-idade? O marido, enclausurado no seu próprio silêncio, não a percebia e, por isso ela se ressentia.Desolada, sentia, muitas vezes, medo de não ter forças para este círculo vicioso desmontar. Rezava, pedia aos santos, fazia de tudo para se acalmar...Quando a situação apertava, até se perguntava: não estaria bancando a adolecente? Será que não estava agindo de forma imprudente?Num determinado momento, achou por bem se acostumar com o que a vida lhe oferecia: tinha um bom marido; que mais queria? Quem sabe seu grande exercício era apreender a levar em banho Maria? Pavio curto, não pode aceitar esta proposta. Sentiu-se agredida.Decidida, e pela milésima vez, chamou o marido para o papo do qual já era freguês. Precissavam passar a limpo a relação. Do jeito que andava não dava mais não. E não é que desta vez ele não recusou! Também andava insatisfeito, a ela retornou.E pela primeira vez realmente conversaram e chegaram a um ponto comum: não conseguiam se entender, isso era fácil de se ver. Ele gostava do silêncio e preferia a solidão, enquanto ela vivia em permanente ebulição. Quando tentavam se comunicar, notavam que o desejo de cada um não conseguiam captar.Com os olhos molhados, rederam-se a triste conclusão: eram muito diferentes, e esta diferença é que causava toda a confusão. Condoídos sabiam que algo precisavam fazer, enquanto amor havia no coração.Ela o amava tanto que resolveu deixá-lo só, no seu canto. Cabisbaixa, levou apenas seu pranto.E ele tanto sabia corresponder a este amor, que a viu sair de sua vida sem nada fazer. Calado, sentiu não ter o direito de vê-la sofrer ao seu lado.Hoje, à distância, sabem que tiveram um gesto de quem ama de verdade. Quem ama não causa ao outro a infelicidade.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O FLÂNEUR ESTÁ VIVO!

No que concerne à boemia e as dores que andam
O flâneur está vivo. No pé-sujo, no botequim, mesmo no botequim fake que mimetiza visualmente a velha guarda, na esquina. O boêmio não sucumbiu à violência urbana, até porque todo boêmio é de alguma forma bandido. O boêmio está menos literário mas não obrigatoriamente menos romântico. Isso não é um defeito. O contrário do operário, na nova ordem, é o boêmio desempregado. O garçom como psicanalista das massas bêbadas e das dores de corno. A cachaça como remate populista dos tristes trópicos, o chute na bunda de Saturno, a queda como alegoria do nosso direito atávico ao berço esplêndido, a celebração da sarjeta.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

MUNDO PARTICULAR (INFINITO E PARTICULAR)

http://br.youtube.com/watch?v=MockmsPSTFc

E ASSIM EM Giseyland
Giselle Gonçalves

"Sim! Sonho em ser poeta e sobre minha tumba
Imagino um príncipe indo deixar rosas vermelhas
E o resto dos homens, espalhados por aí, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Giseyland já observei
Mais de um cantor (um amor) passar e ir habitar
O horto sombrio (solitário) onde ninguém perturba
Seu sono ou canto, mas que derrepende passou a perturbar.
E mais de um cantou suas canções (ou amou me)
Com mais arte (mais amor) e mais alma do que eu (mesma);
E mais de um agora sobrepassa (mas apenas sobrepassa)
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu queria ser poeta e sobre minha tumba
Aquele homem iria espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é que eu sou mais alto (isso tá difícil, hehehe)
Ou mais doce que os outros. É que eu
Apesar de não ser Poeta, tenho a alma de um poeta, e bebo vida.
Mas também bebo vinho para esquecer da existência dos homens menores.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

E um curtinho meu...

No meu horizonte

Vejo o dorso adormecido se mover ao som da respiração.
Respiro o movimento, ação despertadora.
Beijo o crepúsculo do corpo que inutilmente tentou não se deslocar.

Ah, risquem a inércia do dicionário.

O meu preferido...

E ASSIM EM NÍNIVE
Ezra Pound

"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."

(tradução de Augusto de Campos)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

NOSSO CLUBE TAMBÉM TEM SAUDADE, IMENSA.

http://www.youtube.com/watch?v=W6igEPWb6Xg

SAUDADE

na solidão na penumbra do amanhecer.Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem , no hoje, no amanhã...Mas não via você no momento.
Que saudade...

( Mário Quintana )

sábado, 18 de agosto de 2007

No nosso clube do livro tb tem música (arte)

http://www.youtube.com/watch?v=6voJjexENok

Em um mundo perdido, cá estou. Portanto, perdida sou.

http://jp.youtube.com/watch?v=_fCDV4Mw8W8&mode=related&search= (fundo musical, hehehehe)

O que fazer com uma paixão?
Esquecer ? É dificil.
Deixar rolar?
O impossível?
Não, o impossível é mesmo impossível.

Então eu peço,
Passa ....passa tempo.
E o tempo passou...passou.
Mas, incapaz ele também foi.

Trabalho? Muito trabalho.
Amigos?
Alcool?
Veneno?
Droga, anestesia?
Poesias, musicas, filmes?
Nada. Tudo em vão.

A última tentativa.
A tranformação.
Por que nada se cria, nada se apaga, se esquece, mas tudo se transfoma.
Paixão em amor....
Mas, um tipo de amor que não quer nada em troca.
Nada.
Ou que não pode esperar nada.
Nada.
O amor de amigo

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Felizes para sempre???

Este é um trecho do livro "O vendedor de passados" de José Eduardo Agualusa.

"... Antigamente todos os contos para crinaças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Principe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. Só somos felizes. verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam este tempo no qual todas as coisas duram para sempre. Eu fui feliz para sempre na minha infância, lá na Gabela, durante as férias grandes, enquanto tentava construir uma cabana nos troncos de uma acácia. Fui feliz para sempre nas margens de um riacho, uma corrente de água tão humilde que dispensava o luxo de um nome, embora orgulhoso o suficiente para que o achássemos mais do que um simples riacho - era o Rio... Nas aulas de catequese um velho padre de voz sumida e olhar cansado tentou, sem convicção, explicar-me em que consistia a Eternidade. Eu achava que era um outro nome para as férias grandes. O padre falava de anjos e eu via galinhas, Até hoje, aliás, as galinhas são o que conheço de mais aparentado com os anjos. Ele falava-nos da bem-aventurança e eu via galinhas ciscando ao sol, escavando ninhos na areia, revirando os pequenos olhos de vidro, num puro êxtase místico. Não consigo imaginar o Paraíso sem galinhas. Nem sequer o Bom Deus, estendido preguiçosamente numa fofa cama de nuvens, sem que que o rodeie uma mansa legião de galinhas. Aliás, nunca conheci uma galinha má - você conhceu? As galinhas, como as salalés, como as bosboletas, são imunes ao mal."

"A realidade é dolorosa e imperfeita. É essa a natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos certeza d que não estamos a sonhar - se doer é poque não estmos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em corem mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhes os livros."

Na praça Ferndando Pessoa o que se Passa?


Na mente existem dois lados sempre a brigarem.......


O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos

Não, não é cansaço...


Não, não é cansaço...

É uma quantidade de desilusão

Que se me entranha na espécie de pensar.

É um domingo às avessasDo sentimento,

Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...

É eu estar existindo

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Como tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Álvaro de Campos