quinta-feira, 22 de novembro de 2007

PROVA DE AMOR


Irritada levantou-se da sala em direção ao computador. Afinal, ele transformara-se nos últimos tempos no seu maior confessor. Escutava-a com a maior calma, parecia entender o que se passava dentro de sua alma.Tudo que queria com ele falava, ou melhor, teclava. E como teclava! E o computador não fazia cara de horror. Não lhe colocava freios, nem vinha com reprimenda do tipo "Menina, vê se emenda!".Não aguentava mais tamanha ansiedade. Seria crise de meia-idade? O marido, enclausurado no seu próprio silêncio, não a percebia e, por isso ela se ressentia.Desolada, sentia, muitas vezes, medo de não ter forças para este círculo vicioso desmontar. Rezava, pedia aos santos, fazia de tudo para se acalmar...Quando a situação apertava, até se perguntava: não estaria bancando a adolecente? Será que não estava agindo de forma imprudente?Num determinado momento, achou por bem se acostumar com o que a vida lhe oferecia: tinha um bom marido; que mais queria? Quem sabe seu grande exercício era apreender a levar em banho Maria? Pavio curto, não pode aceitar esta proposta. Sentiu-se agredida.Decidida, e pela milésima vez, chamou o marido para o papo do qual já era freguês. Precissavam passar a limpo a relação. Do jeito que andava não dava mais não. E não é que desta vez ele não recusou! Também andava insatisfeito, a ela retornou.E pela primeira vez realmente conversaram e chegaram a um ponto comum: não conseguiam se entender, isso era fácil de se ver. Ele gostava do silêncio e preferia a solidão, enquanto ela vivia em permanente ebulição. Quando tentavam se comunicar, notavam que o desejo de cada um não conseguiam captar.Com os olhos molhados, rederam-se a triste conclusão: eram muito diferentes, e esta diferença é que causava toda a confusão. Condoídos sabiam que algo precisavam fazer, enquanto amor havia no coração.Ela o amava tanto que resolveu deixá-lo só, no seu canto. Cabisbaixa, levou apenas seu pranto.E ele tanto sabia corresponder a este amor, que a viu sair de sua vida sem nada fazer. Calado, sentiu não ter o direito de vê-la sofrer ao seu lado.Hoje, à distância, sabem que tiveram um gesto de quem ama de verdade. Quem ama não causa ao outro a infelicidade.

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