quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
O AMOR DA VELHICE
Geó, que bom que estás a gostas do livro "O Penúltimo sonho" da Angela Becerra... Foi um dos meus favoritos do ano passado... Este livro me fez querer um amor maior... Bem maior do que aqueles que vivi... Um amor que preenche todo o coração, que espalhe odores de rosas e que tenha Chopin como fundo musical...
Hoje para você vou postar uma crônica de Rubens Alves que se assemelha com esta estória e com outra que sei do quanto gostas "O amor nos tempos do cólera" ...
O AMOR DE VELHICE
O amor dos dois surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência. Riam, passeavam pela praça, comiam pipoca e faziam planos para quando se casassem.
Naquele tempo, antes dos progressos da ciência, grassava uma praga mortífera chamada tuberculose, que atacava os pulmões. Para ela não havia remédio a não ser comida, repouso e ar puro. De resto, era o próprio corpo que tinha se curar. Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois jovens, alojou-se nos pulmões do moço. Ele teve de deixar a cidade e a namorada em busca de ar puro, no alto das montanhas, num sanatório, tal como Thomas Mann descreveu no livro A montanha mágica.
Quem ia para tais lugares de cura se despedia com um "adeus" e um olhar de "nunca mais". Na melhor das hipóteses, muitos anos haveriam de passar.
Anos se passaram, o tempo se arrastava, a espera se alongou. E quando a espera é muito longa, os sentimentos se enfraquece . Os pais, preocupados com o futuro incerto da filha e movidos pela prudência, convenceram-na a levar a vida, a parar de esperar.
E aconteceu com a jovem o que aconteceu com Frimina Daza, que de longe e ás escondidas namorava Florentino Ariza, na estória de Gabriel Garcia Márquez O amor no tempo do colera. Fermina foi obrigada pelos pais a trocar o modesto escriturário Florentino, que ela amava, pelo sólido doutor Urbino, portador de futuros, que ela não amava.
A mocinha prudente se casou. O namorado doente se casou. E por mais de cinquenta anos não se viram. Quando ele tinha 76 anos, ficou viúvo. Quando ela tinha 76 e ele 79, ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele, o amor da sua juventude, estava vivo. A curiosidade e a saudade eram fortes demais. Ela não resistiu. Foi à sua procura. Encontraraam-se. E, de repente, eram de novo namorados adolescentes apaixonados. Resolveram se casar. Os filhos protestaram. Os filhos, todos eles, não suportaram a idéia de que os velhos também amem. Especialmente se forem seus pais...
Mas os dois velhos, já no fim da vida, sabendo que o tempo de amor que lhes restava era curto, não deram ouvido aos filhos - casaram-se e mudaram-se para uma cidade do interior.
Viveram um ano de amor intenso, que provocou metamorfoses: ele se descobriu poeta, começou a escrever poesia. Além disso, tirou seu violino de cima do guarda-roupa, onde ficara por muitos anos porque a sua primeira mulher não gostava de música de violino, e passou a fazer parte da orquestra da cidade. Confessou a um sobrinho:
-Se Deus me der dois anos com esta mulher, minha vida terá valido a pena...
Bem que Deus se esforçou. Mas o corpo já estava cansado. Morreu de amor, como temia o Vinícius. Achei essa história tão comovente que a transformei num texto.
Passaram-se semanas da sua publicação. Eram dez horas da noite. Eu trabalhava no meu escritório. O telefone tocou. Voz aveludada de mulher do outro lado.
-É o professor Rubem Alves?
-Sim - respondi.
-Quero agradecer a belíssima crônica que o senhor escreveu, com o título "E os velhos se apaixonaram de novo...". O senhor já deve ter adivinhado quem está falando...
-Não, não adivinhei - respondi.
Aí ela se revelou:
-Sou a viúva.
Foi o início de uma deliciosa conversa de mais de quarenta minutos, interurbano, em que ela contou detalhes que eu desconhecia. O medo que ela teve quando ele resolveu mandar consertar o violino! Ela temia que os dedos dele já estivessem duros demais...
Ah! Que metáfora fascinante para um psicanalista sensível. Sim, sim! Nem is violinos ficam velhos demais nem os dedos ficam impotentes para produzir música! E aí foi contando, contando, revivendo, sorrindo, chorando - tanta alegria, tanta saudade, uma eternidade inteira num grão de areis... Ao terminar, ela fez esta confissão comovente:
-Pois é, professor. Na idade da gente, a gente não mexe muito com as coisas do sexo, Nós vivíamos ternura!
O que me fez lembrar da observação de Kundera sobrea a necessidade de "salvar o amor da tolice da sexualidade". A sexualidade pertence à ordem da biologia, o que nos aproxima dos animais. Mas o amor pertence à oredem da poesia. Abelardo e Heloísa se amaram até a morte.
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muito comovente essa historia linda,isso que é o amor verdadeiro que hj em dia ta em extinçao..sem cometarios;parabéns.bjs
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